O presidente Jair Bolsonaro amanheceu, nesta quinta-feira, disposto a reagir ao cerco que vem se tornando mais evidente ao seu poder de decisão, como se fosse possível transformá-lo em refém de decisões que parecem combinadas entre membros do STF e do Congresso Nacional. Aliás, do Congresso Nacional já teve uma clara reação ao rugir contra o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara Federal, no início da noite da quinta-feira, dia 16, em meio a uma entrevista que concedia a CNN, quando qualificou de “péssima” a atuação do deputado de 74 mil votos do Rio de Janeiro contra o seu governo e contra ele próprio, fazendo com que Rodrigo Maia se calasse desde então. Ao mesmo tempo, tem intensificado uma negociação política com deputados do chamado Centrão, principal base de sustentação do agora inimigo Rodrigo Maia, para compor sua própria base de apoio, depois de um ano e quatro meses de Palácio do Planalto. Uma inaceitável incompetência política do Palácio do Planalto.
Agora, Bolsonaro já começa a rugir para os lados do STF, citando, nominalmente, o ministro Alexandre de Moraes, que, no embalo autoritário da Suprema Corte, impôs ao presidente da República a humilhação de desautorizar uma atribuição constitucional, que lhe pertence, ao impedir a posse do novo delegado-geral da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, na tarde de ontem, quarta-feira, dia 29. E o próprio Bolsonaro disse, já nas primeiras horas da manhã de hoje, que, por muito pouco, o Brasil não experimentou uma crise institucional, deixando claro ter pensado em manter o seu decreto e empossado o delegado Ramagem, ignorando a determinação do ministro Alexandre de Moraes, a quem acusou de ter adotado uma postura política, no caso.
Na realidade do conjunto dos fatos, a República precisa ser recomposta, porque está num perigoso e sensível processo de desorganização, em seus três poderes. Ou, em português mais claro, está numa associação do Poder Legislativo com o Poder Judiciário para impor derrotas ao Poder Executivo. Só que essa aliança já foi longe demais, eis que, como está demonstrado agora, o leão começou a rugir. Depois daquele rugido na selva política, naquele início de noite da quinta-feira, 16, que foi dado, para todo mundo ouvir, contra Rodrigo Maia, agora, emite um rugido contra um ministro do STF, como um recado, aliás, dado em seu discurso de posse do novo ministro da Justiça, na tarde de ontem, quando, lendo os dois primeiros artigos da Constituição, enfatizou a classificação dos três poderes da República, “independentes e harmônicos”, tendo o “independentes” sido pronunciado, duas vezes.
O deputado Rodrigo Maia, como presidente da Câmara dos Deputados, foi no limite nas suas ações de impor derrotas ao governo e, de forma mais direta, à figura do presidente Jair Bolsonaro, mirando numa desejada destituição do próprio presidente de seu cargo. O rugido o fez recuar, pelo menos, por ora, por ter vislumbrado que avaliou mal a reação do inimigo, que escolheu para combater.
Agora, a artilharia se volta para o STF, a partir do ministro Alexandre de Moraes, pois, não é de agora, que a Suprema Corte tem agido no campo do Poder Legislativo e tomado decisões no âmbito do Poder Executivo, como nesse caso específico do novo delegado-geral da Polícia Federal.
Os sinais são claros para que o Poder Legislativo se volte ao papel que a Constituição lhe reserva, da mesma forma, como o STF, pois, se houver mais um avanço, de qualquer desses dois lados, para apequenar, ainda mais, o Poder Executivo, é bom avisar que o leão não está sozinho, nessa selva política.